Aracati

Saturday, 15 December 2007 11:46

AS DIRETRIZES URBANAS PARA A VILA DE SANTA CRUZ DO ARACATY

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Planta do Aracati, 1813. Planta do Aracati, 1813. Antonio José da Silva Paulet

No período de criação e instalação da Vila de Santa Cruz do Aracaty (atual cidade de Aracati), vieram de Portugal, junto com a Carta Régia, as recomendações adotadas pelo Parecer do Conselho Ultramarino de Lisboa. Tais observações se referiam, sobretudo, a largura das ruas, a extensão das praças, a localização dos edifícios públicos, bem como os tipos de casas residenciais que deveriam ser iguais e ter o mesmo perfil, atendendo, sobretudo, para o aspecto estético. 

Entre outras recomendações, o Parecer prescrevia o delineamento das ruas para os novos habitantes, não esquecendo de deixar espaço para o crescimento populacional, respeitando o desenvolvimento urbano que se esperava. Tal Parecer preceituava uma série de outras recomendações, a saber: ao escolher o sítio para instalar a Vila se conservasse a ideia de delinear uma face da Vila ao longo do rio; que se demarcasse primeiro o lugar que serviria de praça e com determinado tamanho para que não parecesse "acanhada"; que no meio da dita praça se levantasse o pelourinho, e aos lados dela ficassem os edifícios públicos, como casa de câmara, cadeia e as oficinas que fossem necessárias ao serviço da mesma vila. 

 
Assim, o plano urbanístico da Vila de Santa Cruz do Aracaty foi traçado. A largura das ruas tinha o objetivo de atender as funções econômicas da época. Por essas ruas transitavam as boiadas, que eram tangidas até o local de abate, na Rua Santo Antônio (trecho da Rua Grande próximo à Praça Dom Luís), local mais próximo dos currais, do matadouro e das oficinas de charque. 
As ruas antigas da cidade de Aracati apresentam-se bem mais largas que o padrão de ruas estabelecido no período colonial para outras vilas. Outra peculiaridade do traçado urbano da Vila é a presença de becos que visavam facilitar a comunicação entre o Porto dos Barcos, as oficinas e os armazéns agilizando o carregamento de mercadorias. 

 
As diretrizes urbanas da Vila de Santa Cruz do Aracaty lograram bastante êxito, ao ponto de algumas autoridades passarem a recomendar esse plano para a construção de outras vilas no Brasil colonial. Como exemplo, temos uma vila criada no Rio Grande, no extremo sul do país. Como podemos perceber, Aracati muito se destacou no contexto do Ceará colonial. O patrimônio arquitetônico de Aracati testemunha essa época em que os aracatienses zelavam pela sua cidade. O cuidado com o uso e a ocupação do solo, o tipo de construção estavam na ordem do dia. 

 
E na atualidade, quais são as diretrizes urbanas para a organização do território aracatiense? Quais são as políticas de habitação para a população que cresce e não tem um local digno para morar? Basta dar uma olhada nas margens do rio Jaguaribe para perceber a ausência de políticas públicas que orientem o uso e a ocupação do espaço. O resultado são as construções irregulares que acabam comprometendo um dos cursos d'água mais importantes do estado do Ceará: o rio Jaguaribe. Se o poder público não tomar as devidas providências, em pouco tempo teremos uma paisagem marcada por favelas rodeando a nossa cidade. Como consequência não teremos mais um rio, mas um esgoto a céu aberto, como é comum encontrar na maioria das cidades brasileiras. 
A sociedade aracatiense deveria dar uma olhada no passado, no exemplo dos primeiros filhos aracatienses, só assim, quem sabe, poderemos garantir um meio ambiente saudável às futuras gerações. 


Maria Edivani Silva Barbosa (geógrafa) 
Professora Mestre do Curso de Geografia 
da FAFIDAM/UECE 

 

Lido 427 vezes Última modificação em Wednesday, 09 November 2022 21:18
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