Aracati

Wednesday, 02 July 2008 21:21

AS 4 BANDAS DE ARACATI

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Filarmônica Zaranza Filarmônica Zaranza

Eram as bandas de música: Filarmônica Zaranza, Euterpe Operária, Filarmônica Figueiredo, Charanga 24 de Maio. Cada qual mais bem aparelhada, com cerca de 30 figuras! - Valia a pena vê-las nos dias de festas públicas, quando saíam à rua, mesmo que fosse uma só, ou duas delas. Fardados os seus elementos, cada banda com o mestre à frente. Eu gostava daquilo e me entusiasmava. 

Eu idealizei uma festa, em benefício da Sociedade S. Vicente de Paulo, acertando fazer um concerto, entrando no mesmo, duas bandas de música. Saí à rua convidando as senhorinhas e rapazes que tocavam instrumentos de sopro ou de corda, bandolins, flautas, violinos, violões, piano etc. Não recebi um "não." Contei com a população em massa. Cada uma das bandas convidadas prontificou-se em ensaiar suas peças de harmonia. Consegui arrastar todo mundo ao palco do Teatro Santo Antônio. Enchi a casa camarotes e cadeiras. Não faltou ninguém. Tomei emprestado um piano, que nunca havia saído da casa da dona. Mandei ajeitar e limpar o teatro. Tonio e Major Bruno com que felicidade cederam! Parecia que o teatro fosse meu. Enfim, no dia 19 de julho de 1914, estavam lá, com minha "troupe", as duas bandas de música da cidade. Foi um sucesso. E eu a dirigir tudo, embora pouco entendendo de música. 

Foi um verdadeiro triunfo. Depois dos primeiros números de música, dei conta do meu recado. Amolei o povo, durante uns trinta minutos. Em seguida a um intervalo, fui aos camarotes do alto e pronunciei uns versos de Guerra Junqueira:" 

  

"Oh, mães que tendes filho! Mães piedosas!  

Quando eles morrerem criancinhas,  

Enfeitai-lhes os caixões de brancas rosas.  

Deixai, deixai voar as andorinhas  

Em busca das paragens luminosas.  

Não acordeis as tímidas crianças,  

Nos pequeninos túmulos risonhos...  

Ditosos os que vivem como esperanças!  

Felizes os que morrem como uns sonhos!" 

  

O meu colega, Dr. José Leite Barbosa deu-me um abraço, e disse: - Meus parabéns. Você conseguiu no Aracati, uma coisa que todos julgavam impossível: - Juntar numa só casa, toda a família aracatiense! Meus parabéns! – 

De fato, estavam todas as famílias no teatro, reunidos os elementos acirrados de ambos os partidos. E, daí por diante, a efervescência política se acabou. E as pazes, depois, foram feitas. Mas as quatro bandas de música?... Se acabaram, pouco tempo depois. Por quê? Nem eu sei. Foram morrendo... foram morrendo... Ainda tive de assistir ao centenário de uma delas: a Zaranza. Fui à festa juntou-se muita gente, para assistir àquela comemoração. Eu preparei uns versos e declamei. Mas por que razão as quatro bandas de música apreciadas se dissolveram? Um mistério... Possivelmente por se terem afastado da terra muitos dos elementos que as compunham. 

Acabaram-se as quatro bandas de música e desapareceram os três jornais e a revista "A Estrela" de Antonieta Clotilde. 

Porém, não será esse o motivo de ir rio abaixo a cidade de Aracati. Não! Não será assim, com tanta facilidade. 

Muita coisa já foi feita depois desses desastres. O necessário é continuarem a produzir os que tiverem fibra. União de vistas, meus senhores. Não briguem como crianças, por um brinquedo só... 

 

 

Lido 1091 vezes Última modificação em Sunday, 06 November 2022 14:44
Eduardo Dias

Eduardo Alves Dias- [...] Baiano de nascimento, porém cearense de coração, o espetáculo das calamidades climáticas de 15 e 32 a que assistiu, ocasionou a Eduardo Dias profundas ressonâncias, sacudiu-lhe a faculdade criadora em grau incomum, e arrancou-lhe da pena uma boa centena de páginas que um dia lhe assegurarão um lugar na nossa literatura das secas, ao lado de "O Quinze", de Raquel de Queiroz, que vem a ser porventura o seu mais forte êmulo, no gênero prosaico. 

Pe. A. Sobreira  in "Cearenses"- poemas das secas. 1950.

  

Publicou: 

"Cearenses"- poemas das secas. Ed. João Bentivegna. São Paulo. 1950. 

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