Aracati

Thursday, 19 January 2012 15:57

O BISPADO QUE NÃO VEIO

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Visita de D. Aureliano à cidade de Aracati Visita de D. Aureliano à cidade de Aracati

A cidade de Limoeiro do Norte foi palco de uma solene cerimônia religiosa que movimentou todo o Vale do Jaguaribe. A sagração de D. Aureliano Matos, Bispo da 1ª Diocese da região Jaguaribana. 

Logo pela manhã do dia 29 de setembro de 1940, uma multidão vinda de todas as cidades do Vale do Jaguaribe e de outras regiões, se concentrava na Praça da Matriz para assistir a solenidade de sagração do novo Bispo. 

 

A imponente cerimônia de sagração foi oficializada pelo arcebispo metropolitano de Fortaleza D. Manuel da Silva Gomes [1], acolitado pelos bispos de Sobral (D. José Tupinambá da Frota), Crato (D. Francisco de Assis Pires) e Mossoró (D. Jaime Câmara). 

  

O jubilo do povo de Limoeiro se expressava na alegria dos rostos de cada cidadão limoeirense, numa demonstração de vitória pelo objetivo conquistado com a implantação do 1º bispado do Vale do Jaguaribe. 

  

Este cenário bem que poderia ter sido a cidade de Aracati: 

  

A maior, a mais populosa e mais rica cidade da zona, com melhor clima e melhor passadio. Comércio intenso em expansão, servido por um bom porto. Melhor Fábrica de Tecidos do Norte do País. Filial do Banco Caixeiral, movimento salineiro[...] (O Jaguaribe: 08/11/1936) 

  

Isto já afirmara o jornal o Jaguaribe [2], como foi citado, quando foi lançada publicamente a campanha pela implantação do novo bispado por D. Manuel da Silva Gomes em setembro de 1936. Concorriam pelo direito e primazia da diocese, as cidades de Aracati, Russas e Limoeiro do Norte. 

  

Infelizmente somente uma pequena parcela da população de Aracati pode testemunhar esse espetáculo religioso. Uma caravana composta de trezentas pessoas sob o comando do prefeito interino Mario Lima, que substituía o prefeito João Porto Caminha em tratamento de saúde no Rio de Janeiro, se deslocou até a cidade de Limoeiro para prestar as homenagens do povo aracatiense ao novo Príncipe da Igreja que tomava posse de sua diocese. 

  

Afinal por que o bispado não veio para Aracati? 

  

Esta pergunta tantas e tantas vezes repetida nunca foi muito bem esclarecida. Aliás, nunca foi, verdadeiramente, bem respondida. Em muitas ocasiões tentaram explicar as causas e buscar os nomes dos culpados para essa perda que muitos aracatienses consideram irreparável, para o que poderia ter sido o engrandecimento educacional, social e econômico do Aracati. 

  

Passado mais de dez anos, veio o Dr. Eduardo Alves Dias [3], um dos baluartes da luta pela implantação do bispado em Aracati, esclarecer através de um artigo publicado no jornal O Jaguaribe, edição do dia 02 de abril de 1950, nº 1023, aquilo que poderia ter sido e não foi. Vejamos então o desabafo do inesquecível médico e homem das letras que tanto pontificou pelo Aracati. 

  

[...] O grande arcebispo, falecido a 14 de março de 1950, não costumava revelar de público as suas mais carinhosas intenções. E muitos lhe faziam ingrata injustiça, por essa causa. 

  

Entretanto é necessário que o povo de Aracati conheça de perto aquele que não conhece. Se fosse vivo, o preclaro, eu não teria coragem de publicar o que agora cabe-me o dever de tornar conhecido de Aracati. 

  

Eu fazia parte da comissão organizadora já em 1929 (Esta comissão pró bispado de Aracati, se reuniu pela primeira vez na sede do círculo operário tendo como presidente de honra o vigário monsenhor Bruno Figueiredo; presidente da comissão, Cel. Alexanzito Costa Lima, prefeito municipal; 1º vice-presidente Francisco Leite Albuquerque, juiz de Direito; 2º Alberto Jacques Klein, comerciante. 1º secretário Eduardo Alves Dias, médico; 2º secretário Ricardo Nunes de Deus, tabelião; tesoureiro Cel. José Correia, comerciante, vice-tesoureiro Heronides Gurgel Figueiredo; além dos seguintes diretores: Dr. Afonso Lima, Joaquim Porto Caminha, Cel. Antonio Felismino Filho, João Caminha Ferreira, João Manuel da Silva, José Fernandes Gurgel, Raimundo Porto, Francisco Gurgel Sobrinho, Alfredo Cavalcante Goiana, Isaías Pereira da Silva Boanerges Rocha, Francisco Sabóia Barbosa, Dr. Ubirajara Carneiro, Alexandre Lima e José Cursino Pessoa.) (A Região: 13/04/1930). 

  

O povo animou-se no momento. (A imprensa de Fortaleza por intermédio do jornal O Nordeste órgão do arcebispado de Fortaleza dizia “que está definitivamente assentada a criação de um bispado na cidade de Aracati.”) 

  

Foi apenas fogo de palha. E, no Aracati ninguém mais falou em bispado. Realmente; passados alguns meses o jornal A Região [4] em pequena nota dizia que: “O comitê pró-bispado não se manifesta”. 

  

No entanto, em julho de 1930 com o apoio do povo, foi comprada uma casa para os padres jesuítas que aqui trabalhavam, na Rua do Comércio (atual cel. Alexanzito, casa pertencente ao Dr. Antônio Rodrigues Uchoa). Isto demonstrava que o povo quando realmente convocado mostrava solidariedade e compromisso com as necessidades da igreja. “Chega o ano de 1936, D. Manuel está em visita à zona do baixo - Jaguaribe. Quando chegou ao Aracati já havia passado em Russas e no Limoeiro. Por lá lembrou a fundação do bispado.” 

  

Vejamos o que diz D. Pompeu Bessa [5] em seu livro “A Antiga Freguesia de Limoeiro "publicado em 1998 as páginas 203 e 204, a respeito desse episódio: 

  

Em setembro de 1936 em visita pastoral às paróquias do baixo - Jaguaribe, D. Manuel da Silva Gomes estando em Limoeiro foi sondado por alguém da possibilidade de Limoeiro ser a sede da diocese Jaguaribana, o arcebispo respondeu: Quem sabe? De Limoeiro o arcebispo segue para Russas. Nessa cidade se reúne com as lideranças russanas, e então D. Manuel lançou oficialmente a campanha pela instalação da nova diocese com sede em Russas. 

  

O povo de Limoeiro sabendo da notícia criou uma comissão para ir falar com D. Manuel que se encontrava ainda em Russas, com a finalidade de incluir Limoeiro na disputa. 

  

Segundo ainda D. Pompeu Bessa, D. Manuel não estava disposto a receber a comissão de Limoeiro. No entanto, devido à interferência do padre José Mourão Pinheiro aceitou então atender aos visitantes que formavam a comissão. Ao final do diálogo com D. Manuel, este acabou concordando que Limoeiro entrasse no páreo para a conquista da sede do bispado, mas esclarecendo que “sua preferência era em favor de Aracati”. 

  

Na verdade D. Manuel queria realmente que o bispado viesse para Aracati como veremos mais adiante pelas palavras do Dr. Eduardo Dias. Entretanto declarou perante a comissão de Limoeiro, que a cidade que se apresentasse com as credenciais poderia ter o bispado. Essas credenciais seria a importância de 200 contos de reis para o patrimônio do novo bispado, segundo declarações do cônego Manoel Caminha Freire de Andrade [6]. (Capital e Santuário: Miragens, Russano-Nordestinas, 1986, pag.338) 

  

Prossigamos então com a narrativa do Dr. Eduardo Dias: Chega D. Manuel aqui vindo de Russas em quase final de 1936, como já foi exposto, e o povo de Aracati que não se tinha movido para fundar o bispado em 1929, achou que poderia também competir com as demais cidades. 

  

Mais uma vez vamos recorrer ao jornal o Jaguaribe do dia 08/11/1936 ao expor a conjunção de Aracati naquela oportunidade: 

  

Toma corpo e cresce a notícia do bispado na zona Jaguaribana. Podemos afirmar já, pois que o bispado de Aracati passou do terreno das cogitações para o da realidade dos fatos. A maior, a mais populosa e mais rica cidade da zona, com melhor clima e melhor passadio. Comercio intenso em expansão, servido por um bom porto. Melhor Fábrica de Tecidos do Norte do País. Filial do Banco Caixeiral, movimento salineiro” (O Jaguaribe: 08/11/1936). 

  

Era justo, prossegue Dr. Eduardo Dias: 

  

[...]D. Manuel não negou nem recusou esse direito; e repetiu a frase: - “Quem se apresentar com as credenciais poderá ter o bispado”. Nessa ocasião houve referências desatenciosas que o magoaram”. 

  

Ao se referir a essa questão das “credenciais” exigidas pelo arcebispo D. Manuel da Silva Gomes. O cônego Pedro de Alcântara Araujo[7] em seu livro: Capital e Santuário: Miragens, Russano-Nordestinas, a página 336, assim se expressa: “Diante disso, os aracatienses, escandalizados com a ideia, desistiram, embora estivessem em melhor situação econômica, que os demais competidores, Russas e de Limoeiro, os quais partiram para a disputa”. 

  

Quanto às “referências desatenciosas que magoaram” D. Manuel; Cabe aqui abrirmos um parêntese para a narração desse episódio descrita por dois estudiosos nesse assunto, cujo incidente converteu-se num fato histórico para a cidade de Aracati: Em seu Livro “A Antiga Freguesia do Limoeiro”, D. Pompeu Bessa relata o acontecimento da seguinte maneira: 

  

“Chegando ao Aracati (1936) o arcebispo fez, igualmente, o lançamento da Campanha Pró-Bispado. Foi então que o major Bruno Figueiredo [8], (uma das lideranças de Aracati), interpelou, irreverentemente, o arcebispo: "Excelência, está colocando o Bispado em leilão? Soubemos que o Aracati não se interessou pelo assunto, ao contrário, a Maçonaria local, naquele tempo muito influente, boicotou a Campanha, e Aracati praticamente ficou de fora do páreo. (Bessa, 1998, pag.204). 

  

O professor Leônidas Fernandes [9] em seu memorável livro “Retalhos da História” ao se referir a essa ocorrência narra os pormenores da histórica reunião: 

 

“Houve um encontro dos líderes locais com a hierarquia da igreja, onde se encontrava entre outros, o meu amigo Monsenhor André Camurça. A reunião aconteceu na igreja do Rosário em Aracati. Entre os líderes aracatienses estava o meu querido amigo major Bruno Figueiredo, um dos maiores da Maçonaria local. Ao saber da exigência dos 100 contos de réis para construir o Bispado, disse em alto e bom tom “A Igreja está é vendendo O Bispado” e retirou-se da reunião. Houve um vexame inicial, mas passou logo e a reunião continuou. Ninguém me convence de que não ficou algum “ranço” ou antipatia na hierarquia da igreja, por causa daquela frase. (Fernandes, 2009, pag.196). 

  

A importância que os dois eminentes autores atribuem à maçonaria nessa ocorrência não tem procedimento. Na época, a maçonaria de Aracati, não dispunha mais do prestígio que possuía no seu início. Em 1936 a Loja Maçônica Fraternidade de Aracati, apesar de manter seu templo na Rua Conselheiro Liberato Barroso nº 132; (Atualmente Rua Cel. Alexanzito nº 669), havia mais de um ano que não se reunia. Aliás, sua última reunião nesse período havia sido realizada em 28 de julho de 1935. Voltando a se reunir somente em 1946. Portanto 11 anos depois. Sendo o bispado de Limoeiro do Norte criado em maio de 1938 e a sagração do seu primeiro bispo D. Aureliano Matos, em 29 de setembro de 1940. 

  

Como poderia então a maçonaria ter se articulado e exercido essa influência obstruindo a instalação do bispado? É fato que o major Bruno Figueiredo era maçon e uma forte liderança política e empresarial respeitável. Contudo não foi seu “atrevimento” para com D. Manuel da Silva Gomes a principal causa de Aracati ter perdido o bispado. 

  

Voltemos então ao relato do Dr. Eduardo Dias após a inquietante e polêmica assembleia que causou incomodo embaraço: 

  

Entendendo-me pessoalmente com ele, disse eu: Se D. Manuel tivesse vindo primeiro ao Aracati, nenhuma das cidades da zona se apresentaria. 

  

E o grande amigo não refutou as minhas palavras. Pensando na possibilidade de servir ao Aracati afirmou: - Se duas cidades se apresentarem com idênticos direitos, eu farei dois bispados: O do Alto - Jaguaribe e o do Baixo - Jaguaribe. 

  

Darei para aquele: Limoeiro, Alto Santo, São João, Iracema, etc. e tirarei duas freguesias da Arquidiocese para o mesmo. O do Baixo - Jaguaribe que será de Aracati; ficará com Aracati, Morada Nova, Russas, Itaiçaba, União (Jaguaruana), Areias (Icapuí), e depois de pensar um instante, concluiu: tirarei da Arquidiocese o Beberibe. E Aracati receberá o melhor quinhão acrescentou. 

  

Foi organizada uma comissão da qual fiz parte, tendo se conseguido dádivas a receber no valor de cento e tantos contos, isto numa reunião apenas! 

  

Saímos à rua para angariar contribuições. No 1º dia quatro. Um dos cinco membros não apareceu. No dia seguinte três. No quarto dia não se fez número... 

  

O jornal O Jaguaribe que a princípio havia sustentado a criação do bispado começava uma campanha contra o que denominava de “obrigação financeira” requisitada pelo arcebispado, como indispensável para a implantação da diocese. Em uma pequena nota publicada no dia 13 de dezembro de 1936, com o título: A história do bispado começa a desvanecer dizia: 

  

Não quer isto dizer, é obvio que prescindam elas, em absoluto, do concurso pecuniário do povo, mas que esse concurso venha apenas, no caráter de auxílio e nunca como elemento principal e acima de suas possibilidades. 

  

De resto, a quota que, a título de indenização ou prêmio se nos exigem, diga-se de passagem, é que além de evidente injusta, exagerada, desde que atendemos e não percamos de vista a circunstância de tratar-se de uma instituição de finalidade genuinamente religiosa. 

  

Na edição seguinte do dia 27 de dezembro de 1936, O Jaguaribe não tinha mais a preocupação de se utilizar de “meias palavras” ou mesmo de sofismas, para abertamente criticar aquilo que considerava abusivo. Dizia que “reputava sim de exagerada e injusta a quota de 100$000$000 (cem contos de reis) que a título – vejam bem – de indenização ou prêmio se nos exigem pelas razões que então expedimos”. 

  

Ao desânimo apresentado pela própria comissão encarregada de angariar fundos junto ao povo para a fundação do bispado, veio se juntar uma poderosa força junto à opinião pública; a imprensa. Criticando com veemência, a maneira como estava colocada a imposição para a criação da nova diocese no vale Jaguaribano. 

  

Mais uma vez retornamos a sequência do relato do Dr. Eduardo Dias: 

  

Uns dez dias depois encontrei-me com Ricardo de Deus [10] que era secretário da comissão – Ricardo, disse eu, quando é que essa gente que sair a rua? A continuar assim como será quando formos para as praias e os matos?... 

  

Disse-me o saudoso vicentino [11]: Dr. Eduardo, os homens de Aracati não querem bispo não! 

  

Caiu-me a crista! – Caiu-me. 

  

O padre Xavier [12] disse-me certa ocasião que o Cel. Alexanzito [13] havia dito que seria caro ter o bispado por trezentos contos e o não interessava [...] 

  

Limoeiro teve a união dos homens da terra. Políticos se coligaram e a ideia foi uma só. Portanto faltou aos aracatienses o interesse que teve o povo de Limoeiro que ganhou o bispado. 

  

Em referência a essa conclusiva asserção do Dr. Eduardo Dias, se contrapõe uma declaração do cônego Manoel Caminha Freire de Andrade. Segundo o cônego que na época era vigário da cidade. Limoeiro somente foi contemplado com a criação da terceira diocese do Ceará, “a custa de algumas espertezas”, por ter recorrido a ajuda financeira do município de Pereiro, de Jaguaretama como também algum dinheiro emprestado da capela de Alto Santo. (Capital e Santuário Miragens, Russano-Nordestinas, 1986, págs. 336, 339) 

  

Vejamos, contudo o que diz o professor Leônidas Fernandes no seu livro “Retalhos da História”, em alusão a essa afirmação do Cel. Alexanzito, segundo declaração do padre Xavier, de que o bispado por trezentos contos não o interessava: 

  

Quando foi decidida a ida do bispado para Limoeiro do Norte, os inimigos políticos colocaram a culpa no Cel. Alexanzito. Esta a razão de, até hoje, quando se fala na ida do bispado para Limoeiro, se não for algum parente dos Costa Lima, dizem logo que a culpa foi do Alexanzito, o que na realidade é uma injustiça. No Aracati, os líderes movimentaram o povo que deu até o que não podia dar e o Cel. Alexanzito entrou com uma forte contribuição, que, somando tudo, chegou ao total de oitenta contos de réis. 

  

Quando Limoeiro foi o município escolhido, os críticos surgiram dizendo que Alexanzito era o culpado porque poderia ter completado etc., etc. Será que a crítica tem fundamento? 

  

Seria injusta então a acusação que sempre se imputa ao Cel. Alexanzito Costa Lima, como incondicionalmente desfavorável ao bispado em Aracati? 

  

Não podemos afirmar com absoluta certeza que a causa primordial do bispado não ter vindo para o Aracati tenha sido determinada exclusivamente, pela resistência adversa do Cel. Alexanzito Costa Lima. No entanto, não podemos sonegar os fatos que nos revela a história quando buscamos entender e decifrar os acontecimentos que cercam esse episódio para a história contemporânea da cidade. 

  

Em 1936 quando do movimento para a implantação do bispado do Jaguaribe, era então prefeito de Aracati o Cel. Alexanzito Costa Lima. O nosso vigário era o padre Manuel Antonio Pacheco [14]. 

  

Haviam se passado somente dois anos da ferrenha disputa eleitoral para a Assembleia Constituinte do Estado em 14 de outubro de 1934, quando sofreu sua única derrota política o Cel. Alexanzito, para o candidato Antonio Felismino Neto [15], apoiado pela LEC – Liga Eleitoral Católica, com a participação manifestada explicitamente pelos padres jesuítas aqui residentes, especialmente o vigário padre Pacheco que segundo seus críticos e adversários políticos diziam, fazia do púlpito um verdadeiro palanque eleitoral. 

  

Para se ter uma avaliação do nível a que desceu essa eleição, vejamos como se manifestou o jornal O Jaguaribe em 21 de outubro de 1934, que defendia a candidatura do Cel. Alexanzito Costa Lima do PSD.   

  

Os nossos odiosos inimigos ganharam alguma coisa na propaganda tenaz que fizeram contra os postulados do glorioso PSD. Ganharam de fato alguma coisa, porque se serviram das mentiras, das calunias empregadas e soletradas dias seguidos aos ouvidos confiantes de eleitores cabalados nas sacristias das igrejas. E aí está à sórdida compressão espiritual exercida pelo vigário como triste e lastimável documento de uma época. Vimos a grandeza do abuso e nenhum escrúpulo religioso do vigário fazendo do confessionário pelourinho político[...] 

  

Naturalmente que havia por parte do Cel. Alexanzito Costa Lima, ainda que não quisesse demonstrar, um forte ressentimento por causa da derrota para a Assembleia Constituinte do Estado. As feridas ainda não haviam sido cicatrizadas. Tanto isso é verdade que quando de sua campanha para prefeito em março de 1936, na sua plataforma política eleitoral dizia que uma de suas prioridades na futura administração seria: “Finalmente comprometer seu prestígio e cuidados religiosos perante a superior autoridade eclesiástica no sentido de cessarem incontinentes uns leitãozinhos gozados que se promovem pelos subúrbios a título de Missão Jesuítica”. 

  

O posicionamento do Cel. Alexanzito mudou consideravelmente nas duas ocasiões em que houve manifestações pela vinda do bispado para o Aracati; isto é, nos anos de 1929 e 1936. 

  

Em 1929, como prefeito de Aracati, fazia ele parte da comissão organizadora para a fundação do bispado, ocupando o cargo de presidente desta comissão. Infelizmente essa movimentação pró-bispado nessa época como nos revelou Dr. Eduardo Dias, não teve prosseguimento. Voltando somente o interesse pela criação da 3ª diocese do Ceará, quando da vinda de D. Manuel ao Aracati quase ao final do ano de 1936. 

  

A participação do Cel. Alexanzito não mais se evidenciava propositadamente, na nossa apreciação, no ano de 1936. Quando novamente era prefeito mais uma vez, e a movimentação pela criação do bispado em Aracati se intensificava ainda mais, devido à concorrência com as cidades de Limoeiro e Russas. 

  

A resolução do Bispado não foi dinheiro. Foi uma questão Política! 

  

A chegada de um bispado em Aracati aumentaria consideravelmente o poder político dos padres. Imagine a influência e o impacto que despertaria e causaria no imaginário do povo, a presença de um bispo com todo cerimonial, pompa e prestígio de que desfrutava e exibia naquela época, quando a Igreja ainda não tinha feito sua primordial opção pelos pobres!? 

  

O Cel. tinha suas razões e ainda não havia esquecido o que experimentara e sentira na própria pele nas eleições de 1934; o poder de um representante da Igreja mesmo em nível hierárquico inferior. 

  

Presuma naquele tempo ter que dividir ou enfrentar um Príncipe da Igreja –como os bispos eram tratados antigamente – uma personificação do alto clero da poderosa Igreja Católica, respeitado, temido e reverenciado, onde na sua presença o povo em genuflexo beijava o seu anel numa demonstração de respeito obediência e humildade? 


[1] Manuel da Silva Gomes – Bispo do Ceará (1912-1941) 1º Arcebispo de Fortaleza 

[2] O Jaguaribe fundado em 12 de julho de 1929 pelo jornalista João Freire de Andrade 

[3] Dr. Eduardo Alves Dias (Médico) 

[4] A Região fundado em março de 1924 pelo jornalista Ezequiel Silva de Menezes 

[5] Dom Pompeu Bezerra Bessa (3º bispo diocesano de Limoeiro do Norte) 1973-1993 

[6] Manuel Caminha Freire de Andrade Vigário de Limoeiro (1936-1938) 

[7] Cônego Pedro de Alcântara Araujo Vigário de Russas (1944-1991) 

[8] Bruno Porto da Silva Figueiredo Prefeito de Aracati (1920-1925) 

[9] Leônidas Cavalcante Fernandes – Escritor - ( Aracati o que pouca gente sabe, 2006 e Retalhos da História, 2009) 

[10] Ricardo Nunes de Deus Tabelião de Aracati (1913-1954) 

[11] Conferência Vicentina fundada em Aracati em 1879 por Antonio Sabóia de Sá Leitão 

[12] Severino Xavier Vigário de Aracati (1951-1953) 

[13] Alexandre Matos Costa Lima (Cel. Alexanzito) Prefeito de Aracati por vários períodos. Sócio proprietário da Casa Costa Lima & Mirtyl 

[14] Manuel Antonio Pacheco Vigário de Aracati (1934-1949) 

[15] Antonio Felismino Neto (1895-1954) Deputado Constituinte em 1934 

 

Lido 547 vezes Última modificação em Thursday, 03 November 2022 20:35
Antero Pereira Filho

ANTERO PEREIRA FILHO, nasceu em Aracati-CE em 30 de novembro de 1946. Terceiro filho do casal Antero Pereira da Silva e Maria Bezerra da Silva, Antero cresceu na Terra dos Bons Ventos, onde foi alfabetizado pela professora Dona Preta, uma querida amiga da família. Estudou no Grupo Escolar Barão de Aracati até 1957 e, a partir de 1958, no Colégio Marista de Aracati, onde concluiu o Curso Ginasial.
Em 1974, Antero casou-se com Maria do Carmo Praça Pereira e juntos tiveram três filhos: Janaina Praça Pereira, Armando Pinto Praça Neto e Juliana Praça Pereira. Graduou-se em Ciências Econômicas pela URRN-RN em 1976 e desde então tem se destacado em sua carreira profissional.
Antero atuou como presidente do Instituto do Museu Jaguaribano em duas gestões (1976-1979/1982-1985) e foi secretário na gestão do prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (1992-1996), responsável pela Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
Além de sua carreira profissional, Antero é conhecido por seus estudos sobre a história e a memória da cidade e do povo aracatiense, amplamente divulgados em crônicas e artigos publicados na imprensa local desde 1975. Em 2005, sua crônica "O Amor do Palhaço" foi adaptada para o cinema em um curta-metragem (15") com direção de seu filho, Armando Praça Neto.

Obra

Assim me Contaram. (1ª Edição 1996 e 2ª Edição 2015)
Histórias de Assombração do Aracati. Publicação do autor. (1ª Edição 2006 e 2ª Edição 2016)
Ponte Presidente Juscelino Kubitschek. (2009)
A Maçonaria em Aracati (1920-1949). (2010)
Aracati era assim... (2024)
Fatos e Acontecimentos Marcantes da História do Aracati. (Inédito)
Notícias do Povo Aracatiense (Inédito)

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