Arte

Monday, 30 July 2007 20:58

O CÃO ZÉ BATATA

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Zé Batata foi o maior, o melhor e mais representativo Cão de pastoril que já houve no Aracati. O artista Zé Batata interpretava, no pastoril, que se apresentava todo final de ano na Praça dos Prazeres; o Cão, personagem dos mais queridos por todos quantos se exibiam naquele auto pastoril, por causa do seu jocoso desempenho. A grande luta travada no palco do pastoril era a batalha entre o Cão Zé Batata, de aspecto horroroso, mostrando um só dente na sua imensa bocarra e o anjo Gabriel, representado, geralmente, pela moça mais bonita e cheia de candura entre todas as que compunham a trupe do pastoril. 

Essa peleja entre os dois personagens simbolizava a disputa do Bem contra o Mal. 

  

Ao sair os cordões de cena, entrava então dançando a florista, a pura e inocente mocinha que, displicentemente, passeava pelos jardins, colhendo flores e cantando alegremente louvores à vida. De repente, dum salto, surgia no centro do palco a figura horripilante do Cão Zé Batata, vestido com um macacão preto colado ao corpo, arrastando um imenso rabo que balançava de um lado para outro, fazendo acrobacias macabras num jogo de sedução, assediando a ingênua mocinha. 

  

A intenção do Cão Zé Batata com sua lábia envolvente e sedutora era cometer o pecado. Era levar consigo para o Inferno a doce e bela mocinha que passeava pelo jardim inocentemente. Quando já estava quase conseguindo envolver e seduzir a mocinha para acompanhá-lo ao “lar e quente lar” do inferno, conduzindo-a pelas mãos avermelhadas da fantasia, era bruscamente surpreendido pela aparição do Anjo Gabriel, de espada em punho. Sobressaltado pela presença do Anjo Gabriel e a força da sua espada justiceira; o Cão Zé Batata se quedava de joelhos ao chão em sinal de submissão, prostração e derrota, com a ponta da afiada lâmina do agente do Bem cravada nas costas. Desamparado e vencido pelo Anjo Gabriel, vendo fugir entre as flores do jardim sua linda presa que estivera tão perto de ser sua, somente sua, a linda e cândida mocinha do jardim florido da vida, e, sendo obrigado a ajoelhar-se mais ainda, rastejando pelo chão acovardado pela força dominadora da espada do Bem do Anjo Gabriel, o Cão Zé Batata, ao ver pela última vez sua linda mocinha desaparecendo pela cortina do palco, entrando nos bastidores, não se continha e, num derradeiro esforço, contorcendo-se todo virava o rosto, fazendo uma careta dantesca para encarar o Anjo Gabriel  resmungava:  

- Oh! Gabriel. Oh! Gabriel, deixa de ser Escroto. 

 

Lido 480 vezes Última modificação em Monday, 31 October 2022 21:52
Antero Pereira Filho

ANTERO PEREIRA FILHO, nasceu em Aracati-CE em 30 de novembro de 1946. Terceiro filho do casal Antero Pereira da Silva e Maria Bezerra da Silva, Antero cresceu na Terra dos Bons Ventos, onde foi alfabetizado pela professora Dona Preta, uma querida amiga da família. Estudou no Grupo Escolar Barão de Aracati até 1957 e, a partir de 1958, no Colégio Marista de Aracati, onde concluiu o Curso Ginasial.
Em 1974, Antero casou-se com Maria do Carmo Praça Pereira e juntos tiveram três filhos: Janaina Praça Pereira, Armando Pinto Praça Neto e Juliana Praça Pereira. Graduou-se em Ciências Econômicas pela URRN-RN em 1976 e desde então tem se destacado em sua carreira profissional.
Antero atuou como presidente do Instituto do Museu Jaguaribano em duas gestões (1976-1979/1982-1985) e foi secretário na gestão do prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (1992-1996), responsável pela Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
Além de sua carreira profissional, Antero é conhecido por seus estudos sobre a história e a memória da cidade e do povo aracatiense, amplamente divulgados em crônicas e artigos publicados na imprensa local desde 1975. Em 2005, sua crônica "O Amor do Palhaço" foi adaptada para o cinema em um curta-metragem (15") com direção de seu filho, Armando Praça Neto.

Obra

Assim me Contaram. (1ª Edição 1996 e 2ª Edição 2015)
Histórias de Assombração do Aracati. Publicação do autor. (1ª Edição 2006 e 2ª Edição 2016)
Ponte Presidente Juscelino Kubitschek. (2009)
A Maçonaria em Aracati (1920-1949). (2010)
Aracati era assim... (2024)
Fatos e Acontecimentos Marcantes da História do Aracati. (Inédito)
Notícias do Povo Aracatiense (Inédito)

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O Grupo Lua Cheia, com sede na cidade de Aracati-CE, é um coletivo de artistas formado em 1990 com o objetivo de fomentar, divulgar e pesquisar a arte e a cultura.