POETOSSÍNTESE

Thursday, 22 July 2021 14:15

ANTERO PEREIRA FILHO

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Antero Pereira Filho Antero Pereira Filho

Seleta de textos de autoria de Antero Pereira Filho.

O AMOR DO PALHAÇO

O circo era de uma pobreza que dava dó. De bens materiais somente o pano sujo e esfarrapado que circundava os poleiros e os dois mastros que seguravam o trapézio. A empanada era o céu estrelado da Canoa Quebrada. Mas tinha gente que fazia do circo uma festa. Principalmente o palhaço e sua bailarina/bailarino da cor do ébano preta como o miolo do jucá.

Depois do número do trapezista que pendurado fazia acrobacias sem nenhuma rede protetora, entrava o palhaço acompanhado da bailarina preta parecida com a nega do Pajeú que com sua bunda dura e arrebitada dançava e rebolava ao som da música da Gretchen, hit de sucesso no começo da década dos anos 70...

Canoa Quebrada ainda guardava a inocência e a pureza dos primeiros tempos, que os mochileiros começavam a descobrir...

A bailarina preta recebeu o nome de Gretchen em Canoa Quebrada. Foi o povo que assim a batizou embalado pelo ritmo dançante e erótico da música rebolativa...

Não havia a alegria do palhaço se faltasse a presença da então agora Gretchen...

Se havia alegria no picadeiro de areia, havia também amor na ribalta, no aconchego dos bastidores onde viviam e se amavam o palhaço e a bailarina.

Um dia, o circo, se foi levando consigo a alegria das noites e o seu palhaço amoroso. A bailarina ficou. Enfeitiçada pela magia da Canoa desistiu do seu amor, sem nunca jamais deixar de amá-lo.

A partir de então a Canoa Quebrada foi seu imenso circo. A Broadway era seu picadeiro onde noite após noite apresentava o show desfalcado do seu palhaço. Dançava e cantava, mas tinha os olhos tristes mesmo quando espelhavam o alucinante brilho do efeito do álcool...

Foram anos e anos perambulando pelas praias, sempre vagando, querendo mostrar seu show que mais ninguém queria ver...

A bailarina fez seu último rodopio na estrada, atropelada por quem não parou nem para ver se o show tinha findado. Somente a escuridão da noite e a luz das estrelas assistiram à derradeira função da bailarina...

Seu corpo negro e envelhecido, estendido no preto do asfalto se confundia com a estrada.

Seus olhos abertos fitavam o sol quando a bailarina partiu...

(Antero Pereira Filho)

Lido 795 vezes Última modificação em Thursday, 17 November 2022 21:06
Antero Pereira Filho

ANTERO PEREIRA FILHO, nasceu em Aracati-CE em 30 de novembro de 1946. Terceiro filho do casal Antero Pereira da Silva e Maria Bezerra da Silva, Antero cresceu na Terra dos Bons Ventos, onde foi alfabetizado pela professora Dona Preta, uma querida amiga da família. Estudou no Grupo Escolar Barão de Aracati até 1957 e, a partir de 1958, no Colégio Marista de Aracati, onde concluiu o Curso Ginasial.
Em 1974, Antero casou-se com Maria do Carmo Praça Pereira e juntos tiveram três filhos: Janaina Praça Pereira, Armando Pinto Praça Neto e Juliana Praça Pereira. Graduou-se em Ciências Econômicas pela URRN-RN em 1976 e desde então tem se destacado em sua carreira profissional.
Antero atuou como presidente do Instituto do Museu Jaguaribano em duas gestões (1976-1979/1982-1985) e foi secretário na gestão do prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (1992-1996), responsável pela Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
Além de sua carreira profissional, Antero é conhecido por seus estudos sobre a história e a memória da cidade e do povo aracatiense, amplamente divulgados em crônicas e artigos publicados na imprensa local desde 1975. Em 2005, sua crônica "O Amor do Palhaço" foi adaptada para o cinema em um curta-metragem (15") com direção de seu filho, Armando Praça Neto.

Obra

Assim me Contaram. (1ª Edição 1996 e 2ª Edição 2015)
Histórias de Assombração do Aracati. Publicação do autor. (1ª Edição 2006 e 2ª Edição 2016)
Ponte Presidente Juscelino Kubitschek. (2009)
A Maçonaria em Aracati (1920-1949). (2010)
Aracati era assim... (2024)
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