História

Friday, 03 June 2016 05:18

ARACATI CAPITAL DA REPÚBLICA DO EQUADOR: ÚLTIMOS DIAS...

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Tristão Gonçalves e Casa de Câmara e Cadeia de Aracati. Tristão Gonçalves e Casa de Câmara e Cadeia de Aracati. Fotomontagem.

 

Quando a notícia de que a Vila do Aracati tinha passado às mãos dos Imperialistas chegou ao Palácio do Governo, o Presidente da então República do Equador no Ceará, Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, passou o comando do governo ao seu substituto, José Felix de Azevedo e Sá. Este reuniu seu exército, composto de 2.000 soldados, duas peças de artilharia e vasta munição, e rumou para Aracati para tentar reverter a situação e defenestrar do poder o grupo dos Imperialistas que estava na Vila, sob o comando militar do tenente Luis Rodrigues Chaves, seu antigo companheiro e ex-aliado. 

UMA VILA REPUBLICANA 

  

Em sua marcha para Aracati, Tristão Gonçalves estacionou sua tropa por um período de tempo num lugarejo chamado Riacho Fundo, próximo à Vila de Cascavel, esperando a chegada de mais homens, que se juntariam ao seu exército, já bastante numeroso. Foi nesse lugarejo em que se encontrava arranchado que Tristão Gonçalves tomou conhecimento em detalhes dos acontecimentos na Vila do Aracati. 

  

Por volta dos dias 13 e 14 de outubro de 1824, chegou ao acampamento onde estava Tristão Gonçalves e toda sua tropa, o Tenente de Milícias Luís Inácio de Azevedo – patente que lhe fora conferida pelo próprio Presidente Tristão - conhecido por Azevedo Bolão, baiano que vivia há muitos anos em Aracati, onde se casara constituíra família e exercia a profissão de carpinteiro. Recebera esse apelido de “Bolão” “por ser grosso, baixo e de formas arredondadas.” Este relatou em conferência ao Presidente Tristão, as ocorrências na Vila do Aracati. Dizendo que na véspera do dia 10 de outubro, o comandante militar da Vila, o major do exército Republicano do Equador, Ricardo Bravo Sussuarana, ficou sabendo que o tenente Luís Rodrigues Chaves, havia desembarcado dia 7 na enseada do Retiro Grande e de lá seguido para a Mutamba, onde arregimentara um grupo de homens para invadir a Vila do Aracati apoiado pelos imperialistas aracatienses, que tinham se refugiado em Mossoró e nas imediações da Província do Rio Grande do Norte, e que estaria em marcha aproximando-se muito perto da Vila; segundo as informações recebidas, já se achava no “sitio Coronel,” distante poucas léguas da sede da Vila. Ainda segundo Azevedo Bolão, o major Sussuarana convocou então os correligionários republicanos juntamente com a tropa sob o seu comando e seguiu ao encontro do “traidor” Luís Rodrigues. 

  

Na verdade, Luís Rodrigues, chamado de traidor por seus antigos camaradas, não teve muita opção em sua escolha. Em maio de 1824, como sargento-mor do exército revolucionário, indo por terra a Pernambuco para cumprir uma missão determinada pelo Presidente Tristão Gonçalves, ao chegar à Paraíba foi preso, pois naquela ocasião, na Paraíba já havia caído o governo revolucionário republicano. Conduzido a Pernambuco que também estava nas mãos dos imperialistas, foi convencido de que o sonho republicano tinha acabado e que em troca de sua liberdade deveria aderir às forças imperiais voltando ao Ceará para comandar a contrarrevolução. O tenente Luis Rodrigues aceitou a incumbência retornando ao Ceará, precisamente ao Aracati, desembarcando, como já foi dito, na enseada do Retiro Grande, no dia 7 de outubro de 1824. 

  

Voltemos então ao relato de Azevedo Bolão... O major Sussuarana estancou sua tropa no lugar chamado “Alto da Cheia”, distante uma légua de onde estavam agrupados os homens comandados pelo tenente Luís Rodrigues. Achando por bem que seria oportuno ter um encontro com o comandante da tropa imperialista, antes de um provável enfrentamento, o major Sussuarana partiu para o Sítio Coronel com um pequeno grupo de seus soldados. 

  

SUSSUARANA ABANDONA A CAUSA REPUBLICANA 

  

Ao retornar, o major Bravo Sussuarana reuniu seus soldados e seguidores que, vieram da Vila até o Alto da Cheia para enfrentar os comandados do tenente Luís Rodrigues e falou que seria inoportuno um confronto com a tropa imperialista. Que eles estavam muito bem armados e com bastante munição, além de um número muito superior de homens em relação aos seus comandados, que seria uma temeridade um combate. Ao finalizar, o major Sussuarana deixou entender aos seguidores republicanos que estava abandonando a causa da República e aderindo ao Império renunciando aos seus ideais revolucionários. 

  

Agora sem o seu principal chefe militar, o major do exército confederado da República do Equador, Antônio Ricardo Bravo Sussuarana, que por ordem do Presidente Tristão Gonçalves, assumira a chefia da guarnição e governo do Aracati até aquele momento, e que a partir dali passava para a causa imperialista, deixava ante essa atitude, órfãos de liderança, os republicanos aracatienses. 

  

AZEVEDO BOLÃO ASSUME O COMANDO 

  

Mesmo inconformados diante daquela inesperada situação, os republicanos aceitaram ficar sob o comando do Tenente de Milícias Azevedo Bolão que, desanimado, retornou a Vila do Aracati com seus comandados, consciente da situação de desigualdade por que passava a causa revolucionária naquela quadra na Vila do Aracati. 

  

Azevedo Bolão não esperou a entrada triunfal dos imperialistas em Aracati. Sabedor da marcha do Presidente Tristão Gonçalves em busca da Vila, tomou emprestado um cavalo de um simpatizante partidário e foi ao seu encontro, a procura de socorro e apoio para a militância republicana do Aracati que, nesse momento, estava em debelada fuga à procura de refúgio e salvamento diante dos Imperialistas que se apossavam da Vila. Sofriam agora os republicanos o mesmo que haviam sofrido os imperialistas quando da chegada do comando militar republicano à Vila do Aracati. 

  

A Câmara de Aracati, sempre contrária às ideias republicanas, tinha a contragosto aceitado as ordens vindas do Governo Republicano instalado em Fortaleza. Muitos dos simpatizantes do Império resolveram deixar a Vila se refugiando na região das Praias (Icapuí) ou nos limites do Rio Grande do Norte. 

  

Ao final do relato feito por Azevedo Bolão, o Presidente Tristão Gonçalves imediatamente organizou seu exército e deu ordem para a partida rumo à Vila do Aracati. 

  

TROPAS IMPERIALISTAS CHEGAM À VILA 

  

Enquanto isso, no dia 10 de outubro de 1824, domingo, a tropa comandada pelo tenente Luís Rodrigues Chaves entrou triunfantemente pela Rua Santo Antônio, a principal da Vila, sendo recebida festivamente pela população e pelas autoridades locais ligadas à Monarquia. Como se sabe, Aracati nunca havia comungado com as ideias republicanas. A família Castro que comandava a política em Aracati era partidária e leal ao Imperador. Além do mais, o Presidente Tristão Gonçalves, juntamente com Pereira Filgueiras, havia destituído do cargo de Presidente da Província, nosso conterrâneo, Pedro José da Costa Barros, o primeiro cearense a ocupar o honroso cargo de Presidente de sua terra natal, mandando prender vários membros da família Castro, inclusive o Major João Facundo de Castro exilando-os no Rio de Janeiro.  

  

No dia 13 de outubro: “A câmara e os cidadãos amantes da boa ordem reuniram-se e instalaram um Governo Temporário para governar, em nome do Imperador, a Província e salvá-la da anarquia e massacração em que jazia”. 

  

Portanto a Vila do Aracati nesse período foi a Capital da Província do Ceará. 

  

Em ofício dirigido ao Imperador o Presidente do Governo Provisório, Antônio José Moreira, descreve que no dia “10 de outubro se fez tremular o estandarte imperial nas quinas das propriedades elevadas desta Vila, e que nesta ordem de cousas se distinguiram os patriotas amantes e leais à pessoa de V.M.I. e se conheceram os que assumiram a perniciosa seita republicana”. 

  

ARACATI SOB BOMBARDEIO 

  

Ao amanhecer do dia 17 de outubro, a Vila acordou ao som da artilharia do exército de Tristão Gonçalves, que não perdeu tempo ao chegar do lado ocidental do rio Jaguaribe, começando a bombardear a Vila mirando principalmente aqueles prédios que ostentavam a bandeira do Império, sem trégua durante todo dia até o escurecer. 

  

Na Vila, o alvoroço era enorme, a população que se preparara para o ataque, cavando trincheiras na Cruz das Almas, no Pelourinho, na Rua da Parada, na Rua do Apolo, na Rua das Flores, sabia que, apesar de todos os esforços, não teria condições de suportar por muito tempo os ataques e a investida da tropa de Tristão Gonçalves, bastante numerosa com armamentos que a Vila não possuía, nem com gente suficientemente preparada para combater soldados profissionais acostumados às refregas de uma guerra. 

  

A força imperialista respondeu como pôde aos disparos da artilharia dos republicanos usando quatro peças de ferro que trouxeram de uma sumaca que estava no porto e para dificultar a chegada de Tristão Gonçalves à Vila, recolheu todas as embarcações que se achavam no rio Jaguaribe ao porto, ficando o tráfego proibido. 

  

POPULAÇÃO EM FUGA 

  

Ao cair da noite, cessaram os tiros de artilharia, porém a população temerosa do que pudesse advir com a entrada da tropa inimiga na Vila, começou uma fuga para escapar da fúria dos rebeldes. Mais uma vez trilharam o caminho da região das praias, indo o grosso da tropa imperialista, uma multidão de civis simpatizantes ao Império e famílias inteiras se refugiarem na Mutamba (Icapuí). 

  

Aproveitando a escuridão da noite, ainda de madrugada, os revolucionários republicanos com a ajuda dos simpatizantes da causa que permaneceram dentro da Vila, conseguiram chegar à margem direita do rio, onde estavam as embarcações, levando-as ao encontro da tropa na outra margem. Assim ao amanhecer do dia 18 de outubro de 1824, segunda-feira, estava Tristão Gonçalves dentro da Vila com todos os seus comandados. 

  

Ao caminhar pelas ruas empoeiradas e desertas da Vila do Aracati, à frente de seus soldados, Tristão Gonçalves, que tinha ao seu lado o leal e fiel correligionário Azevedo Bolão, imaginava encontrar seu ex-aliado a quem nomeara major do exército da República do Equador, o agora legalista imperial tenente Luís Rodrigues Chaves e o major Ricardo Bravo Sussuarana, a quem entregara o comando militar e o governo da Vila do Aracati, para ter com eles um acerto de contas pela traição que lhe causaram. Mas em vez disso, encontrou a Vila quase abandonada com uma população que não pôde fugir ou que preferiu ficar mesmo temendo represálias, assustada diante do numeroso exército que se espalhava pelas ruas e travessas que agora voltava a ser novamente um reduto republicano. 

  

ARACATI: SEDE DA REPÚBLICA DO EQUADOR 

  

Para instalar seu quartel general, Tristão Gonçalves escolheu o sobrado do comerciante João Tibúrcio Pamplona (Externato Kennedy) localizado na principal Rua da Vila, a Rua das Flores, cujo proprietário havia se retirado para fora da Vila quando da chegada da tropa revolucionária. Para que pudesse entrar e se instalar no sobrado, foi preciso então que as portas fossem arrombadas a mando do próprio Tristão Gonçalves. 

  

A partir de então, a Vila ficou à mercê da soldadesca que cometeu todo tipo de arbitrariedade contra os moradores, notadamente os comerciantes contrários que tiveram seus armazéns saqueados, segundo a crônica escrita pelos vencedores, dando conta do ocorrido às autoridades do Império. 

  

Não se pode deixar de mencionar que a ordem dada pelo próprio Tristão Gonçalves, fora fuzilar quem cometesse saques e roubos dentro da Vila. No entanto não pôde evitar que seus oficiais saqueassem o armazém do comerciante João Tibúrcio Pamplona, que funcionava na parte térrea do sobrado por ele ocupado. Segundo a narração da história, os oficiais dividiram entre si as peças de fazenda que encontraram nas prateleiras do armazém do Cel. João Tibúrcio. 

  

O fato mais relevante que a história registrou sobre os desmandos da tropa republicana em Aracati, deu-se contra dois barcos de nacionalidade inglesa que estavam no porto recebendo carga para seguirem viagem à Inglaterra, os brigues Lexfort e Vestal. Diz o historiador Pedro Theberge que o comerciante João Tibúrcio Pamplona, a quem cujos navios estavam em consignação, supondo que os navios estrangeiros pudessem estar a salvo de um possível saque por parte dos rebeldes republicanos, enviou para bordo desses navios todo o dinheiro que tinha em casa. No entanto, o Presidente Tristão Gonçalves ao tomar conhecimento desse fato, mandou que o capitão Francisco de Paula Ribeiro Tamanduá fosse aos navios e resgatasse o dinheiro que havia a bordo. Mesmo diante da resistência e dos protestos dos respectivos comandantes dos navios, o capitão Tamanduá fez abrir as escotilhas e arrombar os caixões de fazenda e conduzir todo o dinheiro que neles foram encontrados. 

  

Segundo Theberge, na ocasião em que recebia esse dinheiro, Tristão com ar triunfante exclamara: “Com esse dinheiro queriam eles fazer-me a guerra; pois bem, com ele mesmo eu a farei aos inimigos da República". 

  

Não conformado com o dinheiro resgatado dos navios ingleses, Tristão ordena o saque aos armazéns do porto e a cobrança de tributo de guerra aos ricos comerciantes com a finalidade de reabastecer a tropa. 

  

Infelizmente não se tem conhecimento de nenhum ato administrativo ou deliberações governamentais, durante esse período em que esteve instalado aqui na Vila do Aracati, no Palácio Provisório da Presidência da República do Equador, o Presidente Tristão de Alencar Araripe. Visto que, se alguma determinação ou gestão tivesse sido tomada, esses documentos assim como todos os outros relativos a esse período, foram queimados por ordem do José Felix de Azevedo, que veio a assumir o poder na Província, depois da derrocada da República do Equador. 

  

O PRENÚNCIO DO FIM 

  

Enquanto Tristão Gonçalves permanecia em Aracati, fatos e acontecimentos contrários aos seus desejos ocorriam em toda a Província, e muito particularmente na capital Fortaleza. Seu substituto, José Felix de Azevedo, a quem tinha entregado o comando do poder enquanto vinha a Aracati combater seus inimigos, havia se rendido aos imperialistas na pessoa do comandante Lorde Cockrane e aderido ao regime Imperialista, inclusive jurando lealdade ao Imperador Pedro I. 

  

Diante das circunstâncias que se apresentavam naquela ocasião, Tristão Gonçalves resolveu convocar seus oficiais para uma reunião no amplo salão do andar superior do sobrado de residência do comerciante João Tibúrcio Pamplona, que ele havia transformado em palácio provisório da Presidência da República do Equador e quartel-general das forças revolucionárias, para decidir quais as ações a serem tomadas dali em diante. 

  

Algumas alternativas foram discutidas perante todos: Aceitar a anistia ampla para todos os revoltosos propostos pelo Lorde Cockrane, inclusive desejando um encontro amigável com Tristão Gonçalves. Fugir numa jangada para o Maranhão ou mesmo em algum navio que estava no porto da Vila para outro país. Dispersar o exército republicano - que àquela altura já estava em frangalhos com a debandada geral. 

  

Enquanto se discutia, Tristão Gonçalves tomando da palavra deliberou que todos estavam livres para seguir o seu destino, mas que o dele já estava traçado. Estava o presidente Tristão Gonçalves com 35 anos de idade quando decidiu não aceitar a anistia prometida pelo Lorde Cockrane e depois negada pelo Imperador, resolvendo então que não se entregaria nem fugiria, deixando livre a todos os seus comandados a decisão de seguirem com ele ao encontro do seu companheiro José Pereira Filgueiras no Cariri ou debandarem conforme suas vontades. 

  

Era 21 de outubro de 1824, quinta-feira. O que restava do exército republicano, tendo à frente o comandante Tristão Gonçalves, acompanhado dos seus mais leais seguidores, entre eles Azevedo Bolão, partiu da Vila de Aracati levando o que pôde dos “saques que fizeram na Vila”. 

  

A poeira da tropa de Tristão ainda não tinha se dissipado no horizonte, quando o tenente Luís Chaves Rodrigues, à frente do comboio imperialista chegava à Aracati, para mais uma vez desfraldar a bandeira do Império “nas quinas dos prédios mais altos e significativos da Vila". 

  

A crônica histórica dos vencedores conta os horrores que aconteceram na despedida da tropa republicana. Quanto à veracidade desses fatos, os vencidos não tiveram a oportunidade de contestar essa versão. 

  

Eis algumas narrativas dessas ocorrências: Num ofício enviado ao então Presidente da Província José Felix de Azevedo Sá, pelo major Antonio Ricardo Bravo Sussuarana (ex-major republicano) “nessa data de 28 de outubro de 1824, Imediato da força Imperial: ...Agora com pesar em meu coração dou parte a V. Exc.ª. da desgraça suma porque passou a Vila do Aracati, que ficando entregue ao inimigo sofreu prejuízo pouco mais ou menos de 50 contos de réis. Em fim Excelentíssimo Senhor os mouros não faziam o que fez o malvado Tristão, derrotou e roubou todo o precioso daquela Vila roubando todas as embarcações fundeadas naquele porto aonde entraram duas embarcações inglesas neste número; em uma palavra Excelentíssimo Senhor aquilo que os malvados não puderam levar destruíram queimando, despedaçando” ... 

  

Noutro ofício o Presidente do Governo Temporário instalado aqui na então Vila do Aracati, Antônio José Moreira, relata ao Imperador as “peripécias da marcha de Tristão Gonçalves contra Aracati, tomada e abandono da Vila”... “descansadamente escalaram as portas dos prédios urbanos desta Vila e fizeram uma manifesta ladroeira, estragando as propriedades sem nenhuma piedade e no dia 21 do dito mês perturbado e sem demora alguma saiu desta Vila com seu séquito conduzindo em carros e animais os furtos que haviam feito". 

  

O FIM DE TRISTÃO 

  

Segundo Pedro Theberge no capítulo XVI do Tomo II, do seu livro Esboço Histórico sobre a Província do Ceará, a notícia da morte de Tristão Gonçalves, ocorrida no dia 31 de outubro de 1824 no lugarejo chamado Santa Rosa, no município de Jaguaribara, hoje inundada pelo Castanhão, chegou a Aracati por uma pessoa que trazia consigo um dedo separado de uma mão humana, dizendo ser aquele dedo de Tristão Gonçalves e que o tinha como um troféu da vitória. 

  

Do que restou da tropa de Tristão Gonçalves depois da batalha de Santa Rosa, dezesseis vieram presos para Aracati e aqui ficaram recolhidos na cadeia pública. Entre eles estava o “nosso” Luiz Inácio de Azevedo (Azevedo Bolão) preso em Santa Rosa na refrega da luta, de arma na mão. 

  

Em ofício enviado pela Câmara dos Vereadores de Aracati, em 6 de novembro de 1824, ao Presidente Temporário da Província do Ceará; José Felix Azevedo, estava sendo encaminhado preso no brigue inglês Lexfort, que ainda estava no porto de Aracati, com destino à prisão em Fortaleza, Azevedo Bolão, que era acusado de “ter desamparado a Vila do Aracati e ter concorrido para a destruição e os roubos que nela fizeram.” 

  

Em 16 de maio de 1825, uma manhã de segunda-feira, Azevedo Bolão foi executado por um pelotão de fuzilamento, no Passeio Público. “Um fato revoltante e horroroso sucedeu por ocasião do seu fuzilamento. O tiro de honra, dado nos condenados que não morriam incontinenti à descarga fatal, fez-lhe saltar os miolos e um tenente da escolta, que executava o fuzilamento, sem piedade cristã e no mais revoltante cinismo, chamou o seu cão, que os devorou à vista dos circunstantes da tristonha tragédia, ao lado do corpo ainda quente da vítima.” 

  

A condenação de Azevedo Bolão, segundo o historiador João Brígido deu-se devido à má vontade dos Castro que mandavam na política do Aracati naquela época. Queria dizer com isso que a importância de Bolão não fora tão significativa dentro do movimento revolucionário, e que por isso poderia ter sido perdoado. 

  

Outra explicação para sua condenação e para o terrível e desumano tratamento que teve na hora da sua morte, vem do historiador Paulino Nogueira, que alegava: “sendo Bolão, um homem de cor, baiano, carpinteiro, sem parentes nem amigos em Fortaleza...”.  Conclui-se que além do preconceito, não tinha ninguém por ele, num momento tão extremo de sua existência. 

  

A vingança foi o mais forte motivo para tamanhas barbaridades. O nosso conterrâneo Pedro José da Costa Barros, primeiro Presidente da Província do Ceará, que fora destituído por Tristão Gonçalves de Alencar Araripe em abril de 1824 e com a derrocada da República do Equador, retorna ao poder da Província em dezembro de 1824. No dizer do Barão de Studart, “era uma alma cruel e vingativa, porque não perdoou a ninguém que fez a Inconfidência do Equador”. 

Lido 2361 vezes Última modificação em Monday, 07 November 2022 22:12
Antero Pereira Filho

ANTERO PEREIRA FILHO, nasceu em Aracati-CE em 30 de novembro de 1946. Terceiro filho do casal Antero Pereira da Silva e Maria Bezerra da Silva, Antero cresceu na Terra dos Bons Ventos, onde foi alfabetizado pela professora Dona Preta, uma querida amiga da família. Estudou no Grupo Escolar Barão de Aracati até 1957 e, a partir de 1958, no Colégio Marista de Aracati, onde concluiu o Curso Ginasial.
Em 1974, Antero casou-se com Maria do Carmo Praça Pereira e juntos tiveram três filhos: Janaina Praça Pereira, Armando Pinto Praça Neto e Juliana Praça Pereira. Graduou-se em Ciências Econômicas pela URRN-RN em 1976 e desde então tem se destacado em sua carreira profissional.
Antero atuou como presidente do Instituto do Museu Jaguaribano em duas gestões (1976-1979/1982-1985) e foi secretário na gestão do prefeito Abelardo Gurgel Costa Lima Filho (1992-1996), responsável pela Secretaria de Indústria, Comércio, Turismo e Cultura.
Além de sua carreira profissional, Antero é conhecido por seus estudos sobre a história e a memória da cidade e do povo aracatiense, amplamente divulgados em crônicas e artigos publicados na imprensa local desde 1975. Em 2005, sua crônica "O Amor do Palhaço" foi adaptada para o cinema em um curta-metragem (15") com direção de seu filho, Armando Praça Neto.

Obra

Assim me Contaram. (1ª Edição 1996 e 2ª Edição 2015)
Histórias de Assombração do Aracati. Publicação do autor. (1ª Edição 2006 e 2ª Edição 2016)
Ponte Presidente Juscelino Kubitschek. (2009)
A Maçonaria em Aracati (1920-1949). (2010)
Aracati era assim... (2024)
Fatos e Acontecimentos Marcantes da História do Aracati. (Inédito)
Notícias do Povo Aracatiense (Inédito)

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