POETOSSÍNTESE

Wednesday, 28 July 2021 10:59

HENRIQUE MUSASHI

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HENRIQUE MUSASHI Henrique Musashi.

Seleta de textos e poemas de Henrique Musashi.

O FAQUIR 

  

Estes meus olhos rutilantes, hoje, fitos em ti 

Já estiveram opacos, vermelhos, ‘flâmula a meio pau’ 

Embotados pela lágrima sem consolo... 

  

Hoje, rende-se ao novo ar de esperança,  

empreendida a sufocar a voz da traumática experiência, 

Não querem mais chorar... 

  

Esta boca faminta, eloquente e molhada com os teus beijos 

Provou de seus dias lacônicos, agrestes e soturnos, 

Mas, revigorado, rasguei com os dentes  

as fímbrias da obscuridade 

E esta mesma boca agora ora, profetiza,  

louvo a Deus por tua existência. 

Por favor, não deixe, de novo, ficar mudo,  

a não ser com um beijo teu... 

  

Estas mesmas mãos que te afagam, acariciam  

e te chamam para dançar gostoso... 

Já estiveram de punhos cerrados, suadas e trêmulas  

ao amparar apenas minhas próprias lágrimas tão sentidas. 

E mais uma vez estão estendidas, receptivas 

Desejosas do toque de tua pele  

e de abrigar somente tuas mãos 

Por favor, não me deixe mais cerrá-las... 

  

Este meu tronco, qual, hoje, se debruça,  

amoroso, sobre teu ventre ao amor... 

Onde te agarras delirante a sugar-me sobre ti... 

Há algum tempo já esteve posto literalmente ao chão 

Amparado apenas pela parede, cabisbaixo e choroso 

Hoje se permite a volúpia de teus braços e boca  

a conduzir-me ao teu caminho de doce Afrodite. 

Por favor, não permita desolar-me ao chão... 

  

Cansei de ser, de minha alma, o faquir... 

  

Em, 11 de abril de 2006. 

  

(Henrique Musashi) 


 

ÉKSTASIS 

  

  

O que os teus lábios não me falaram 

As tuas mãos já me disseram tanto - mais do que deviam 

  

(Mas creio que ainda não disseram tudo) 

enquanto tua boca nem som produzia, 

fizeste minha boca se morder em doce enlevo 

Enquanto passeavas e hidratavas os meus sonhos com o mel de tua boca 

Sim, um mel abstrato 

de uma boca tal como os teus olhos - parcos 

Porém cheia de carícias as quais ofertas a pele  

que reveste arrepiada o meu peito, 

o qual dizes, em gestos, ser tão doce, 

Pois a tua língua assim me fez pensar 

Em cada beijo bem vivido 

Por bem sentir e bem guardar tal textura  

presente na tua superfície tão opulentamente doce 

Enquanto sinto a seda entre vales e dunas  

tão generosamente gostosas 

as quais quase sempre me despertam  

o desejo de por sobre elas me deitar 

e quem sabe agonizar de sede  

por tanto desejar beber de tua água. 

  

Em, 21 de outubro de 1998. 

  

(Henrique Musashi) 


 

SEI... 

  

  

Sei que tuas primaveras superam meus olhos outonos 

E, provável, teus olhos parcos, outrora invernos, 

já viram mais que os espelhos de minh'alma 

  

Por certo, ou errado, já viste frente a frente  

Grã delusão ofuscaste 

a embotar a visão de beleza de um simples beijo 

e de outros sinônimos da palavra amor 

  

Desilusões de garimpo de malograda bateia, 

por achar tantas piritas e nunca pepitas 

E de repente, quando se acha ouro tão raso 

se duvida que o bom tesouro valha 

  

Poesia também é dor! 

É apenas canto lindo de pássaro  

arrulhador de belezas só contidas no íntimo da alma 

e não ao seu derredor. 

Eu, poeta, já desisti de dizer 

que o amor é lindo, 

pois prefiro mostrar, a ti, 

que o amor existe! 

  

Em, 18 de maio de 2005. 

  

(Henrique Musashi) 


 

(1 hora depois...) 

  

  

Ébrio é o meu comportamento infeliz 

Faço merda... Falo merda... 

  

da solidão que me impõe o carrancismo 

a dizer-me freguês do fútil 

talvez útil ao meu 'ID' 

a dizer-me animal comum 

quando na verdade sou o poeta deslocado 

de tudo que aqui existe 

Sou o social carrasco! 

  

  

Vaginas a contemplar-me comum 

em meio a vulgaridade ali, citada também, tão comum 

Aqui paixão é algo flutuante e enganoso 

a dizer-me que o amor, talvez, seja algo inexistente... 

Fujo! 

Roubo segundos de minha vida 

a dizer-me eterno 

quando na verdade sou mais que efêmero. 

  

  

Brega, triste, inusitada voz irritante 

sobre os meus conceitos incomuns, 

pois que nunca paguei por sexo (neste contexto!) 

Não irei pagar por segundos fantasmas e tristes 

por apenas satisfação de um instante 

a pagar por um espasmo hormonal. 

  

  

(Henrique Musashi) 

 

NO CABARÉ 

  

  

Sinto minhas forças se esvaírem 

neste ambiente funesto 

Fungos em minha consciência 

a dizer-me vulgar 

  

entre as cinzas de um cigarro barato 

a submeter-me ao prelúdio profano 

como o tigre, que sou, 

ando solitário entre as 'damas' propostas, 

cheio de cachaça, 

um embrulho nas entranhas. 

- NADA A VER COMIGO! 

Social carrasco a dizer-me estranho 

Não me encaixo! 

Sou o estranho em meio as garrafas a incinerar 

garganta, bucho e filme. 

Penso... 

Penso, torto e tonto como meu caminhar 

balbo e ébrio 

cruzando o prostíbulo 

Não me encaixo! 

Nada neste lupanar me identifica 

a não ser o desejo mútuo de me entorpecer 

com o meu vulgar tranquilizante... 

  

Aracati/Ce - Em, 9 de abril de 2005. 

  

(Henrique Musashi) 


 

Lido 304 vezes Última modificação em Wednesday, 16 November 2022 22:06
HENRIQUE MUSASHI

HENRIQUE MUSASHI- poeta e escritor aracatiense.

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